A meta de sua
vida era ser patroa. Sonhava com o dia em que, vestida de seda e linho, usando
sapatos de salto altíssimo, humilharia os funcionários e as vizinhas fuleiras
de seu tempo de doméstica. Mas ainda era doméstica e tinha aquele marido bobão,
que não tinha boca pra nada, que nem era capaz de gritar de volta quando ela
gritava com ele. Aquele bola murcha que estragava aqueles moleques deixando que
eles fizessem tudo o que queriam. E ela ficava de ruim, da brava e para que tudo
funcionasse tinha que gritar, esbravejar, até que as coisas, finalmente, andassem do jeito que ela queria. Sua casa era pequena, seu quintal menor
ainda, mas mesmo assim tinha feito o marido trazer na bicicleta uma
espreguiçadeira de beira de piscina que conseguira encaixar entre o canteiro de
couve e o tanque de lavar roupas. Aos domingos colocava o mini-biquíni que tinha
ganhado da patroa, o chapéu de abas largas e faixa colorida que tinha comprado na
Seller e lá se deitava enquanto os filhos traziam salgadinhos torcida e cerveja
gelada e o marido assava uma carninha na churrasqueira improvisada. Eram esses
seus momentos “Revista Caras” como ela costumava dizer. Nessas horas, mais pra
imitar a patroa do que pra prestar realmente atenção em minhas páginas, me
tomava nas mãos e folheava, soberba, lendo um diálogo por vez, fingindo que tinha acompanhado a
história, fingindo que se emocionava, fingindo que sabia realmente ler.
Voltei daquela
casa engordurado, com marcas de copo na página inicial, com sal e pedacinhos de
salgadinhos no vão das páginas.
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