terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O Romance de Romance - Sétimo Capítulo: As três irmãs fazedeiras

Uma era solteira, uma viúva e a outra “largada” com diziam. A solteira esperava até hoje que seu grande amor voltasse para busca-la, a viúva tinha enterrado o marido após uma longa doença. Eles tinham vivido bem, se amavam e se respeitavam muito. A “largada” tinha sido trocada pela moça que vendia Yakult, motivo pelo qual a simples menção de tal produto tinha o poder de lhe provocar enjôos e urticárias. Apesar dos percalços que tinham passado, elas eram alegres e dinâmicas, viviam numa casa muito clara e muito limpa (ao contrário da casa anterior), com vasos de flores e samambaias por toda parte. Me liam ao mesmo tempo, num revezamento sincrônico que dava gosto de ver. Enquanto a viúva fazia almoço, a solteira me lia. Enquanto a solteira bordava, a “largada” me lia e enquanto a "largada" lavava e passava as roupas era a viúva quem me lia. Elas me marcavam de modos diferentes: uma dobrando o canto superior da página, outra o canto inferior e já a terceira usava um marcador de livros com a imagem de Nossa Senhora Aparecida com uma oração impressa no verso. Me leram rapidamente, as três e, no dia de pagar a conta de água do Saema, já me levaram de volta pras estantes do Sebo. Fui trocado por um outro romance, mais antigo que eu. Elas gostavam muito de ler, as irmãs fazendeiras. E eu gostei muito muito delas...

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